Artigos
O que o Amor tem a ver com isso?
Essa palavra de quatro letras dá arrepios em executivos durões.
Não porém em Jack Welch e Herb Keller

Revista FORTUNE ---- 12/11/2001
Por Geoffrey Colvin

O processo da escolha de seu sucessor foi sofrido para Jack Welch, era preciso que ele selecionasse um dos seus melhores candidatos. “Eu amo esses rapazes, todos três!”, declarou.

Anos antes quando o homem que iria afinal assumir o posto, Jeff Immelt, tivera um ano terrível, Welch lhe disse, “Eu amo você, e sei que você pode ter um desempenho bem melhor.”

Em uma Universidade, na qual iria fazer uma palestra, Welch foi abordado por um estudante que conseguiu penetrar antes no camarim e lhe pediu um autógrafo. Welch contou o incidente para a platéia depois, dizendo, “Eu senti tanto amor por esse menino, eu podia ter lhe dado um grande abraço apertado.”

O ponto que quero ilustrar com esses pequenos exemplos, é a freqüência com que Jack Welch usa esta palavra, a qual, geralmente nunca é associada aos grandes CEOs. Isto faz dele alguém bastante incomum, porém não único. Outro CEO ( que aliás também se aposentou recentemente, como Welch), que tem a mesma predileção, é Herb Kelleher da Southwest Airlines. No mercado de ações a sigla que representa sua companhia, é LUV, o que nos primeiros dias foi, em parte, uma jogada de marketing, pois então, todos os vôos da companhia decolavam ou aterrissavam no Dallas Love Field, (cujo nome não tem nada a ver com a divina paixão -- love (amor) -- mas com um piloto, Lieutenant Moss Lee Love). Por alguns anos sua publicidade era baseada no slogan:“The airline that love built”, (“A companhia aérea construída com amor”), um rótulo de dar arrepios em quase qualquer CEO da aviação comercial. Entretanto Kelleher nunca demonstrou qualquer timidez quanto a identificar a origem de seu sucesso:

“Uma empresa é mais forte se é ligada pelo amor e não pelo medo.”

Como um sério homem de negócios, você iria revirar os olhos e chamar esses caras de frescos se não fora por um pequeno detalhe: suas realizações, as quais são fora de série, todos sabem. Welch gerou mais dividendos para seus acionistas do que qualquer outro CEO da história – um valor superior a $300 bilhões. Kelleher construiu a mais rentável companhia aérea do mundo, a única a produzir lucro anualmente durante os últimos 28 anos ininterruptos, um recorde que deverá se manter, sobrevivendo o pior ano da história da aviação.

Welch e Kelleher tem muito em comum. Ambos são CEOs híper bem sucedidos de origem americana-irlandesa, são da mesma boa safra e conhecem bem um ao outro. A G.E. vendeu para a Southwest alguns motores de jatos. Mas quando usam esta palavra estranha ao mundo dos negócios, eles se direcionam em sentidos diferentes, ambos interessantes e dignos de atenção.

Kelleher está falando sobre a base de uma cultura corporativa única, a qual ele crê ser a fonte inquestionável do sucesso da Southwest. Um exemplo final: outras companhias aéreas solicitaram a seus empregados que, nas semanas subseqüentes ao 11 de setembro, abrissem mão de parte do salário para ajudar a empresa; alguns irão fazê-lo, mas anos de relações de trabalho desagradáveis irão certamente refletir de volta sobre as companhias nestas circunstancias. Já na Southwest, os próprios funcionários organizaram o movimento da devolução de remunerações espontaneamente, logo após o ataque ao World Trade Center. A Southwest foi a única companhia aérea norte-americana a relatar lucros no terceiro trimestre de 2001. Diga-se de passagem, a Southwest é a mais sindicalizada das empresas de aviação nos EUA.

Welch encara não ter pudor ao dizer “amor” como qualidade essencial de uma natureza imbuída de paixão. Tudo o que sente é intenso, seus sentimentos são sempre fortes, e ele está seguro de que essa característica é crucial para o sucesso empresarial. Há muito tempo ele disse que é fundamental para um jogador de primeira linha ser, antes de tudo, um apaixonado. Seu princípio básico ao manejar pessoas é assegurar-se de abraçá-las, quando elas estão carentes, e de dar-lhes uma palmada quando precisam ser repreendidas. A maioria das empresas são ruins nisso. Welch diz tê-lo aprendido com sua mãe.

Sejamos claros acerca do que esses homens não estão dizendo. Hoje em dia muito tem sido publicado sobre a importância do amor nos negócios, dentro de todo o material ligado a Nova Era. Já que negócios tem tudo a ver com relacionamentos não deveríamos todos tratar- nos com respeito e amabilidade, etc? É tudo perfeitamente válido, mas essa se torna uma linha de argumentação saturada, cansativa e moralista como um velho sermão. Welch e Kelleher falam simplesmente de sermos humanos e autênticos num ambiente que quase sempre comunica artificialidade. Kevin Roberts, CEO mundial da agencia publicitária Saatchi & Saatchi, diz que ao invés de só produzir uma marca registrada, o alvo deveria ser identificar a marca de um produto como um símbolo de amor. Segundo ele essa colocação poderia fazer estremecer em minutos todo um comitê de diretoria. Mas o ponto levantado por Roberts é totalmente coerente com a atitude de Welch e Kelleher: “Precisamos bombear seiva emocional na maneira como negociamos”

Nós, da mesma forma, também não estamos falando aqui da onda de espiritualidade na área empresarial. Esses caras não são parte de nenhuma onda ou tendência. Eles tem falado e se comportado da maneira que fazem por mais de 40 anos, e algumas vezes isto não pareceu estar nem um pouquinho na onda. Durante os anos 80 e todos os oportunistas e mauricinhos e os anos 90 com os pragmáticos dot-com, a palavra amor estava decididamente fora de moda.

Welch e Kelleher não estavam nem aí, e de repente nem notaram. O que muda com o tempo é a nossa disponibilidade para ouvir certas coisas. E agora, com tantas pessoas repensando o sentido de todo este jogo afinal, é maravilhoso escutar o que esses homens tem nos dito durante todo tempo.

voltar -